Anne Fortier
Editora Arqueiro
Eu não ia postar sobre esse livro. Talvez eu nem mesmo fosse lê-lo. Julieta foi um presente de 15 anos que ganhei de uma velha amiga. A amizade passou, mas o livro não. Deve ter sido esse o motivo que me manteve distante da obra por tanto tempo. Ganhei em março e só terminei em outubro - no momento certo. Não que a leitura não fosse boa, mas sim porque a mensagem dele para mim só serviria naquele sábado à tarde, quando a viagem era curta e alma ansiava por mais. Tirei o livro da estante, coloquei os fones de ouvido e mergulhei no mundo de Julieta.
"E essa dor que hoje sentimos servirá para conversa, no futuro."
Julie e Janice são irmãs gêmeas que passaram a ser criadas pela tia-avô Rose e seu mordomo Humberto depois do acidente que resultou na morte de seus pais. Uma notícia abala a vida de Julie: tia Rose morreu. Enquanto Janice, a gêmea má, herda a casa, tudo o que restou para Julie foi uma carta. Nela dizia que seu verdadeiro nome é Giulietta Tolomei e que sua herança é, na verdade, um tesouro familiar descoberto pela sua mãe. A única forma de se apoderar dele é partindo para Siena.
Chegando na velha cidade, tudo o que há desse suposto tesouro são papéis velhos, um caderno com esboços de desenhos, uma antiga edição de Romeu e Julieta e o velho diário do pintor Maestro Lippi. Lendo o diário, Julie descobre que Romeu e Julieta é apenas uma adaptação de uma história ambientada em Siena - e não em Verona, como escreveu Shakespeare - sobre dois jovens, Giulietta Tolomei e Romeo Marescotti, que foram vítimas de seu amor avassalador e do ódio mortal da família Salimbeni. A partir das informações contidas nos papéis de sua mãe, Julie parte para uma caçada perigosa e mortal, buscando seu tesouro e o fim de uma antiga maldição.
A narrativa é intercalada entre o presente, na busca de Julie pelos mistérios, e o diário de Maestro Lippi, contando o romance entre Giulietta e Romeo. Esse é um dos pontos mais positivos do livro. Além de conhecer e envolver-se com a investigação da Giulietta do presente, ainda acompanha a história da Giulietta medieval - e que história! A Giulietta de 1340 era forte e destemida, uma personagem incrível. Romeo também não ficava para trás - era o tipo rebelde despreocupado, ansiando por amor.
“Quanto às cartas endereçadas a Romeo, recebia respostas ardentes a cada uma delas. Se a jovem falava em centenas, ele respondia em milhares e, quando ela falava em gostar, ele falava em amar. Giulietta era ousada e o chamava de fogo, mas Romeo era ainda mais intrépido e a chamava de sol; ela se atrevia a pensar nos dois juntos em um salão de baile, porém ele não conseguia pensar em outra coisa senão em estar com ela a sós…”Por um longo tempo os momentos que realmente me capturaram na estória foram os de 1340. A razão era que o estilo gêmea boa e gêmea má se tornou muito cansativo e Julie era uma personagem, no mínimo, fraca - sempre oprimida pela irmã, tentando ser tudo menos uma comparação, quando na verdade era tudo que ela era.
O mundo de Siena é realmente fantástico! No livro a identidade sienense é mostrada em seu principal aspecto: as contrade.
[...] Siena não é apenas Siena, mas um conjunto de 17 bairros ou contrade diferentes e todos eles tem seu próprio território, seus governantes e seu brasão. [...] Para a população de Siena, essas contrade, esses bairros, são tudo o que se resume na vida: são seus amigos, sua comunidade, seus aliados e também seus rivais. Todos os dias do ano.
Além dessa informação tão peculiar, há ainda uma exploração das histórias contidas no subterrâneo da cidade, assim como uma pesquisa minuciosa, que permitiu à autora tanto veracidade quanto liberdade de criação.
A questão é que nenhum comentário bom que eu fizer fará jus ao que Julieta realmente é, mas não custa nada tentar.
Seu desenvolvimento é incrível, repleto de surpresas. Os personagens são cativantes, e o melhor: reais. O cenário é esplêndido (pfvr, é Siena!) e a escolha da estória - Romeu e Julieta - não poderia ser mais perfeita. E as surpresas então? Mesmo se eu disser que há reviravoltas, não há como imaginar a proporção delas. É um livro ótimo tanto como romance e suspense como histórico.
Julie melhora como personagem no decorrer do livro e torna-se destemida, não apenas uma sombra de sua irmã. Alessandro, um desafeto que arranjou logo no primeiro dia em Siena, é... bem... ~suspiro~
O grande defeito da obra: NÃO TEM FILME! Não entendi a razão disso, sério. Julieta é um livro extremamente compatível com adaptações. Mas se um dia alguns produtores acordarem e perceberem a beleza e a oportunidade que Julieta traz, serei a primeira da fila na estreia. E sobre o elenco, já tenho meus palpites para meus personagens favoritos.
Alessandro Santini
Desde o princípio, quando imaginava Alessandro, Michael Trevino vinha à minha cabeça. Ambos são, como Julie explicou, "não apenas um colírio pecaminoso, mas também de uma elegância de arrasar".
Giulietta Tolomei e Romeo Marescotti
Por falar em Taylor Swift...
Como falei antes, terminei o livro em uma viajem. Coloquei os fones de ouvido e escolhi o primeiro álbum que vi: Fearless. Nem mesmo havia me lembrado que a música Love Story era dele. À medida que lia, as músicas se encaixavam totalmente nas situações do livro. Em cada faixa havia um pedaço de Giulietta, Alessandro, Humberto, tia Rose e, no fim, de mim.
Começou com Fearless (Destemida), que é exatamente o que Julie se tornou. E por aí foi... Love Story, que conta a história de Romeu e Julieta. Hey Stephen e The Way I Loved You, um retrato perfeito de Alessandro. White Horse, Breathe, Tell me Why, Forever & Always e You're not Sorry que eram a explicação perfeita dos sentimentos e inseguranças de Julie em relação ao seu "Romeo". You belong with me, algo certo em qualquer adaptação de Romeu e Julieta - um sempre irá pertencer ao outro. Change, música perfeita para o final do livro. The Best Day, que traduz a relação das gêmeas com Humberto e tia Rose.
A única faixa que não se encaixava com a estória era Fifteen. A primeira que - por obra do destino, talvez - estava na dedicatória do livro. Aquela que eu nunca tinha notado. Que falava sobre como pensamos que sabemos de tudo aos quinze anos. Que traduziu exatamente o que eu precisava ouvir. Melhor, que traduziu tudo o que eu sou.
And when you're fifteen
And you just might find who you're supposed to be
Nossa, que resenha maravilhosa! Você não sabe o desejo que nasceu em mim quanto a esse livro. Nunca fui muito lá fã de Romeu e Julieta, mas esse parece ser o tipo de livro que eu preciso conhecer, uma saída perfeita de rotina.
ResponderExcluirObrigado!
Ótima resenha! Uau, ainda estou pasma, ficou bem pessoal e essa foi toda a graça...
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