Esse foi um dos livros mais inusitados que eu tive a oportunidade de ler. À princípio você acha que é só mais uma estória comum, com todo aquele realismo (que muitas vezes torna a leitura cansativa) dos escritores russos (embora o autor seja natural da Ucrânia sempre viveu na Rússia e seu estilo literário é muito similar ao estilo de importantes autores russos). Mas à medida que a leitura vai evoluindo você percebe que não é apenas um livro como outro qualquer. A estória do livro retrata a sociedade russa de meados do século XIX e faz isso de forma extremamente detalhada – desde os alimentos e bebidas comuns da época até os costumes das pessoas de diferentes classes sociais. Mostra, acima de tudo, o quão vulgar pode ser o ser humano quando se deixa corromper pela ganância, quando se deixa levar por fofocas e toda sorte de coisas superficiais.
O personagem principal do livro é Pável Ivanóvitch Tchítchicov, um homem extremamente dissimulado.O livro começa quando sua viagem pela Rússia começa. Ele vai de cidade em cidade, aldeia em aldeia, conquistando a confiança de todos, e principalmente dos “pomiêchtchiki” (donos de grandes propriedades rurais). Tudo isso para lhes fazer uma proposta muito bizarra – a razão do título do livro – Ele propõe aos proprietários rurais a compra das “almas mortas” (os servos que já morreram). Ele não quer desenterrá-los, nem nada tão estranho assim, mas mesmo assim a proposta não deixa de ser sinistra. Os proprietários rurais, mesmo com receio, resolvem participar dessa transação comercial, afinal não é nada ruim lucrar, principalmente se o lucro acontecer de forma tão fácil. A transação deveria ser secreta, mas as fofocas começam, o que coloca Tchítchicov em grandes apuros. As situações que o personagem principal vivencia garantem ao leitor muitas gargalhadas e muitas lições, como, por exemplo, o quão poderosa a fofoca pode ser e como a sociedade pode acreditar em coisas totalmente descabidas.
O aspecto que merece maior destaque a respeito desse livro é que o livro tem duas redações e o autor não concluiu a obra, assim, o livro acaba sendo confuso e fica complicado de se compreender em certas partes. Esse é o único aspecto negativo que eu consegui encontrar a respeito dessa obra. O que, a princípio, fez com que eu tivesse uma opinião totalmente diversa da minha opinião atual, mas, ao mesmo tempo, foi o que tornou o livro tão inusitado e agradável, já que o livro, literalmente, não tem fim, possibilitando ao leitor imaginar e concluir a obra da forma que achar mais interessante. Esse livro confirma o ditado popular de que “existem males que vem para o bem”.
Com sua realidade louca, bizarra e intensa, “Almas Mortas” conquista o leitor de uma maneira única.
Ficou legal a resenha. Gosto muito de autores russos, que nessa época eram praticamente os melhores do mundo.
ResponderExcluirMuito bom o livro. Muito boa sua capacidade de comentar, de fomra a deixar o leitor aguçado e curioso para degustar o livro e viajar na estória.
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