Karthasis — Pedro Gomez



   Hey! Hoje vou postar a primeira participação do Projeto Karthasis. Não postei anteriormente porque meu word não estava funcionando e o conto foi mandando  no formato doc. D: 
   Anyway... Quem nos enviou o texto abaixo foi Pedro Gomez. Eu já tinha lido alguns contos dele antes e sempre adorei. Espero que vocês gostem também. (:


O Matador de Dragões

   Um jovem cavaleiro...ou talvez apenas um jovem sonhador... 
  Certamente um jovem, que cansou-se dos antigos e monótonos afazeres diários e agora possui aquele ambicioso brilho nos olhos por algo mais ousado, como inevitavelmente ocorre com todos em certa idade.
  Tal brilho finalmente apareceu no momento em que a viu. A jovem donzela de cabelos tão negros quanto a noite e que possuía uma pele tão branca que sua presença podia ser comparada em si com o mais belo luar que já arrebatou o humilde vilarejo que se fazia sua mente. E a donzela, assim como a própria noite e o luar, era impossível de se alcançar... como que para tornar a metáfora perfeita; mas afinal, que metáfora não é?
   Mas não importava que ele tivesse que alcançar a lua, viajar ao inferno ou apenas conquistar o coração de uma noviça... era um cavaleiro,...dos mais destemidos e do condado mais valente... o dos sonhadores. Não se daria por vencido.
  Foi então que começou sua missão... viajou para o longínquo e desconhecido...para o perigoso. Derrotou dragões com a destreza e a fúria de mil almas errantes, mas era apenas um jovem franzino que clamava por seu amor.
  Depois do que lhe pareceu uma década ele voltou... já era um homem. Possuia sua honra... mas ainda assim humilhou-se e jogou-se aos pés daquela que preenchia seus sonhos todas as noites há tanto tempo, e clamou por seu amor. Gritou para que todos ouvissem que ele, que matara a própria morte...entregava-se de corpo e alma a ela...
   Que ele a entregava seu coração.
   A donzela pôs-se à sua frente e ordenou que se levantasse.
  Ao levantar, ele pôde ver seus olhos de perto. Era a primeira vez que via aqueles olhos profundos e escuros. Tão escuros que refletiam a luz de seus próprios olhos. Porém, aquele escuro não eram trevas. Era algo doce...e penetrante. Mas antes que pudesse pensar na metáfora certa, a donzela lhe arrancou o punhal que carregava em sua bainha...levantou-o e reunindo suas forças, cravou-o com precisão em seu peito...perfurando-lhe o coração.
  Mas havia algo de magico naquele cavaleiro. Não havia como ele ter ido ao inferno sem que retornasse com qualquer coisa de místico. Ele não morrera com aquilo...apenas ficara ali...urrando de dor em uma agonia sobrehumana enquanto sua amada lhe perfurava o coração.
 Algo interessante ocorreu...o jovem cavaleiro...o jovem sonhador...começava a desbotar...envelhecia e enegrecia...enquanto o fluido vermelho de sua vida escorria por seu peito e seu semblante, incrédulo, ainda olhava os vales sem fim dentro dos olhos da donzela, que por sua vez...ganhava vida...ficara mais bonita...mais forte...até que o largara...deixando-o ali...com um palmo de uma navalha afundada em seu peito e agonizando; se perguntando por que isso ocorrera. Ela afastou-se devagar...com lágrimas nos olhos. Lágrimas de culpa.
  Depois de passar mais uma década sofrendo...com noites agonizantes e sangrentas e ainda com o punhal em seu flanco, o cavaleiro, ainda ferido, avista uma bela camponesa. Ao ver seus olhos grandes castanhos, com uma grande esfera infinita e negra no centro...sente, após uma década, o sangue correr rápido por suas veias e começou a imaginar que a ferida começava a ser fechada.
  O cavaleiro, debilitado, não tinha mais condições para duelar contra dragões para obter o amor de sua amada..mas em um dia...como que com uma imagem divina vinda de seus mais belos sonhos, o jovem encontrou um alaúde. E com sua determinação, compôs a mais bela das musicas para aquela camponesa, que certamente a merecia. Afinal...como poderia a mártir da perfeição não ser merecedora?
  Após anos ouvindo seu nome ser cantado, a camponesa aproximou-se dele, que por mais um segundo, abaixou sua guarda e permitiu que a camponesa massageasse seu peito, ainda com uma lâmina saindo dele. Ao sentir o suave toque da jovem, ele sentiu como se sua ferida estivesse sendo automaticamente curada, mas cometeu de novo o mesmo erro.
  Quando o êxtase foi tanto que ele fechou os olhos, a camponesa apoiou-se na bainha do punhal e o afundou no cavaleiro até a metade. E mais uma vez o ritual se sucedeu...a jovem camponesa revitalizou-se e encheu seus olhos de lágrimas enquanto o cavaleiro empalidecia e agonizava, modificando completamente seu semblante.
  Por mais que tentasse ser perfeito, o cavaleiro sempre tinha o mesmo final e cometia vez após vez o mesmo erro...e se perguntava: por que isso ocorre? Por quê sempre aumento minha ferida pelas mãos de quem eu me dedico para ajudar, procurando desesperadamente também, alguma ajuda?
  Pois como poderia eu saber? Sou apenas um simplório escritor com um conto triste em minhas mãos...de modo que essa pergunta permanecerá sem resposta.
  E sem resposta o cavaleiro seguiu..por anos...enquanto sua ferida tornava-se maior e mais sangrenta, e o punhal em seu peito finalmente, em um golpe de misericórdia...foi enfiado até o talo em seu coração. Não havia mais como empurra-lo. A ferida estava completa e rasgava seu coração ao meio. Não havia volta.
  Um segundo antes de morrer, o jovem cavaleiro..sonhador...lutador e poeta musico viu sua vida passar por diante de seus olhos, e lembrou-se de quando sua ferida foi aberta...lembrou-se do motivo. E podia jurar que o viu no horizonte, vindo em sua direção. Aquela menina linda, de cabelos longos e mãos sobre o peito, como se quisesse proteger seu próprio coração... Coisas de quem está á beira da morte.
   Aos poucos sentiu a vida esvaindo-se de seu corpo e estirava-se ao chão antes que a donzela o alcançasse. Uma lágrima solitária lhe fez companhia em sua partida.
  Um fim de tarde, um pôr do sol...um amontoado de pedras com finalidade de lápide é cercado de arvores em uma bela colina...honrando a lembrança daquela pobre alma amante.
  No topo do amontoado tem uma espada...ou seria apenas dois galhos cruzados...para que nunca se esqueçam do jovem guerreiro, matador de dragões...o jovem cavaleiro do condado...o jovem sonhador...ou quem sabe...simplesmente um jovem...

23:10 25/12/2011

Pedro Henrique Miranda Gomes

  Lindo, não?! Adorei esse! Espero que tenham gostado também!
  E você, gosta de escrever? Se quiser mostrar seu trabalho veja como participar do Katharsis aquiEu tenho recebido cada texto lindo, que me faz chorar. Não demore em mostrar seu talento também.(:
  God bless you! <3

Um comentário: