Se eu fosse um livro...



   Se eu fosse um livro talvez seria um chick-lit. É, a história de alguém que gosta de se divertir com as amigas, que dá uma de sabe-tudo, que acha que conhece tudo sobre o mundo...e quebra a cara.
   Sim, mas também poderia ser um triller de suspense. Que decisões tomar? E se eu fugir? E se eu seguir por esse caminho? E se a vida nunca for como esperava? E se...
   Também não me nego o direito de ser uma aventura: passar pelos meus problemas com um sorriso no rosto e cabeça erguida daria ótimas páginas.
   E por que não ficção científica?  Será que há algum alien por aí que queira explorar este planeta isolado? Ah, não precisa ser de outro planeta: basta ter um coração e muita paciência porque este livro de mistério ainda necessita de tempo para ser sequer aberto.
   Independente do gênero, com certeza não seria um best-seller. Seria um daqueles escondidos no fundo da estante, acumulando poeira. Um daqueles que julgariam pela capa simples e gasta, cansada de ver tantos rostos e nenhum lar. Me encaixaria nos sem sinopse, sem recomendações de autores famosos, sem nenhum atrativo especial a não ser suas palavras. Seria um triste e extensivo monólogo, cheio de detalhes e sentimentos, com folhas amareladas e um vazio no fim da página. Aparentaria solidão e esperança. Seria uma capa branca, sem cor, sem forma, sem voz, silêncio.
   Mas assim como todo livro, traria um ponto de vista, algo a acrescentar. Tornaria as dores mais suportáveis, os gritos dos que não tem voz mais alto. Entreteria e o leitor ganharia pelo menos algo com minhas páginas, nem que fosse espaço preenchido na estante. E eu ficaria lá, observando, sendo livro ou não. Observando a vida de quem resolveu me ler, quem deu importância para o que eu dizia, quem resolveu investir apesar de estar lá, bem ali no cantinho da livraria.
   Para esses leitores queria ter a oportunidade de falar, mesmo com minhas palavras chulas e meus parágrafos banais, que um autor valoriza quem ama sua obra, quem a vive, sente e dá atenção. Mas sou apenas um livro fechado, uma pessoa reclusa. Apesar disso, há sempre metáforas, mensagens subentendidas e quero que meus leitores, mesmo com um pouquinho mais de esforço, saibam porque usei elas. Se você for um bom leitor (ou uma boa pessoa) as valorizará.
   E se você passou por mim e não me notou, lhe compreendo perfeitamente. Ninguém se interessa por capas brancas, frases mal construídas, erros de digitação – ou de caminhada. Tudo que posso lhe desejar é um livro que lhe arrebate, que torne sua vida um pouco mais perigosa; desejo-lhe páginas amarelas para que também aprenda a apreciar o cheiro da vida e  capas instigantes que lhe despertem a visão e assim leia cada página atentamente para, na hora da leitura, evitar mal-entendidos.
   E desejo, acima de tudo, que escreva uma história melhor. Revise seus rascunhos, peça opiniões aos mais íntimos, tenha um cuidado maior com suas sentenças.  É como o grande Will falou: “Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém. Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência para que a vida faça o resto.”
   Mas se você der as boas razões e a vida não se importar, ainda há um lugar aqui no canto da livraria. Você terá uma capa melhor, com certeza. Talvez lhe levem primeiro, mas minha companhia sempre será algo certo, pode vir.
  E se você não for um livro, pode vir para o canto da livraria mesmo assim. Estarei lá de qualquer jeito. Passeando pelos corredores, correndo os dedos pelas lambadas, lendo sinopses de livros esquecidos. Mesmo que o branco seja solitário, ele sempre será algo certo. E a maior certeza neste exato momento é que lá estarei eu, livro ou não livro, no fundo desta livraria, esperando alguém que tenha paciência e sensibilidade de ler essas páginas esquecidas, essa capa branca e esse coração mofando, acumulando poeira. Bem aqui, no fundo da estante.

6 comentários:

  1. Ai amei seu texto. As palavras meio que fluem (ele deve ter surgido na sua mente dessa maneira rs). Pensar no sentimento de uma pessoa comparado à um livro foi genial! Mas no meu ponto de vista, um livro de capa branca, páginas amareladas nem sempre são sinônimo de solidão. Talvez a capa branca esteja ali prontinha para absorver o novo, e se encher de cores e novas perspectivas. A página amarelada talvez seja consequência de uma obra explorada ao máximo, lida por todos... De qualquer jeito, seja você pessoa ou livro haha, algum leitor ansioso estará a espera. Tipo... eu!

    Beijos!
    www.picturesandreams.blogspot.com

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  2. simplesmente PERFEITO ...Parabéns menina cê se garante

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