Essa tal Literatura


   Desde pequena sempre quis saber porque as coisas mudavam com o tempo. Cresci fazendo perguntas, o que irritava minha mãe muitas vezes, mas meu pai sempre esteve de pronto para minhas indagações. À medida que crescia, meus objetivos se tornavam diferentes, mas a curiosidade continuou lá. Questionava porque alguns conceitos mudaram tanto, porque não vivemos como na época  da Bíblia, porque fazer tal coisa era errado enquanto outra coisa era uma virtude. 
   Muitos dizem que para compreender o mundo ao nosso redor, estudar História é imprescindível - algo que concordo. É importante sim revermos nosso passado para compreender os tempos em que vivemos. Será que os brasileiros têm consciência de que a inflação altíssima das últimas décadas do século passado é consequência de dívidas datadas da época da Independência?  Que só levaram a colônia brasileira a sério por causa da Revolução Francesa, quando a corte portuguesa precisava de proteção? Informações assim fazem a diferença porque interferem no modo como vivemos hoje.
   Por essa e outras razões, sempre amei História. Sempre tive curiosidade sobre os tempos passados, por saber que existiram pessoas que morreram em nome de algo importante. Ficava fascinada com alguns fatos históricos, narrativas sobre guerras, esclarecimentos sobre revoltas... Mas tudo parecia muito distante. E então conheci a Literatura!
Tomás Antônio Gonzaga
   Veja, uma coisa é você estudar sobre a Inconfidência Mineira através de um livro de História, totalmente imparcial, escrito por um contemporâneo seu. Outra coisa é você ler os poemas de Tomás Antônio Gonzaga, acusado de conspiração e participação no movimento, condenado ao exílio em Moçambique, em que ele fala da sua má sorte, do seu sofrimento por estar tão longe da sua amada e padecendo em uma terra desconhecida. É um relato de alguém que viveu aquilo e deixou registrado suas impressões sobre um acontecimento que ainda ecoa na nossa história, mesmo depois de tantos séculos. 
   Conhecer a história pelas pelas palavras de alguém que vivenciou é um outro nível. Não são apenas fatos, mas sentimentos, impressões, pensamentos e até influências. É uma visão de mundo, apresentada por alguém de uma época diferente, vivendo um momento histórico diferente. E foi isso que me prendeu. 
   Sempre tive curiosidade sobre o modo como as pessoas pensam, o que sentem, como reagem a certas situações. Uma vez Oscar Wilde disse que os homens não se revelam por si mesmo, mas basta dar-lhes uma máscara e eles lhe dirão a verdade. A escrita é uma das máscaras do homem. Querendo ou não, o autor sempre colocará um pouco de si em cada personagem, fala, situação e pensamento. E não falo apenas dos livros clássicos. 
   Com toda certeza algumas obras da época presente perpetuarão na história da Literatura, deixando marcas do nosso tempo. O que nossos autores tem a oferecer hoje para gerações futuras? Descobrir essa resposta nos leva a compreender mais sobre o que estamos vivendo agora, as transformações pelas quais estamos asssistindo e as mudanças que estamos fazendo. 
   O que é registrado se torna imortal. Os tempos passam, as pessoas morrem, as situações desaparecem, mas a ideia fica. Se tem algo que valorizo nas pessoas são seus pensamentos e quando registrados, eles se intensificam de tal forma que chegam a ganhar vida própria.
   Considero que a expressão por meio das palavras tenha uma magia e conexão diferentes e isso talvez seja porque, assim como Paula Pimenta, eu seja Apaixonada por Palavras. Ou porque, como Augustus Waters, me importo com as marcas que as pessoas deixam no mundo. Talvez até porque alguns livros são capazes de mudar algumas certezas como O Vendedor de Sonhos fez e trazer esperança, assim como Julieta. Uns podem nos trazer amizades para a vida toda - que o diga Percy Jackson e Harry Potter! Outros provocam horas de reflexão e uma estranha conexão, como O Retrato de Dorian Gray enquanto outros mais como A Lira dos Vinte Anos nos faz chorar como uma criança perdida.

Encontro de semideuses (lê-se: pessoas mais legais que já conheci)
   E é isso! Acho que o que se escreve é o reflexo do mundo através de um espelho subjetivo - cada um vê de uma forma diferente - e o fascínio está exatamente nisso. Você não lê apenas uma obra vazia, mas sim os pensamentos do autor. Não aprende como um personagem pensa, mas a maneira com a qual o escritor lida com as situações. É um mundo igual ao nosso, mas moldado pela pessoa que criou a obra, de acordo com suas vontades e desejos. Ler é uma conexão infinita!
   Se me perguntarem por que leio, direi que é porque sinto. E ultimamento tenho até me atrevido a dizer que sinto porque leio. Não é mais apenas um hábito. É algo maior. É infinito. 


7 comentários:

  1. Post extremamente perfeito, acho que todos nós passamos pela época das indagações, tudo que você falou (no caso, escreveu), foi tudo o que eu sinto/sentia. Parabéns!

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  2. Em primeiro lugar adorei o blog e você escreve muito bem!
    Bom seria se todos tivessemos um pouco da preocupação do Augustus ... se todos tivessemos interesse por História e por leitura *-*
    Belíssimas palavras!

    www.moniitorando.blogspot.com

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  3. Adorei o blog, pois é uma vida devotada aos livros. Uma paixão desmedida, “uma loucura mansa” – como definiu José Mindlin

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  4. Muito bom! Fiquei fascinado pela maneira como você redige seus textos/pensamentos.

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  5. Achei perfeito esse seu texto, sinceramente, gostei muito. Achei lindo!

    Acho que todo autor deixa um pouco de si mesmo nos personagens, a gente sempre deixa algo de nós mesmos no que escrevemos. E é por isso que eu adoro ler, a gente conhece pessoas e mundos diferentes e sem sair do lugar *--*

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  6. Nossa, adorei sua postagem e o texto está muito bem argumentado. Parabéns, vc escreve muito bem.

    Beijinhos de domingo

    http://marlicarmenescritora.blogspot.com.br/

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  7. Tão nova e já mandando bem...parabéns menina,vim parar aqui através do blog da Marina e com mais tempo quero apreciar o que você tanto diz...pois assim como você também amo ler...
    Uma ótima semana e se quiser conhecer meu cantinho fique a vontade.

    Lia Torres
    http://lojacoisasdalia.blogspot.com.br

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